quinta-feira, 27 de março de 2014

Entrevista com Marlene Marchiori




A entrevistada dessa semana é Marlene Marchiori, graduada em Administração e em Comunicação Social – Relações Públicas, concluiu o pós-doutorado em Comunicação Organizacional na Brian Lamb School of Communication, da Purdue University, nos Estados Unidos. Doutora pela Universidade de São Paulo (USP), com estudos desenvolvidos no Theory, Culture and Society Centre da Notthingham Trent University, no Reino Unido. Marlene é pesquisadora líder do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) nos grupos de estudos Cultura e Comunicação Organizacional (Gefacescom) e Comunicação Organizacional e Relações Públicas: Perspectivas teóricas e práticas no campo estratégico (Gecorp). Professora sênior da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Autora do livro Cultura e comunicação organizacional: Um olhar estratégico sobre a organização, e organizadora das obras Comunicação e Organização: Reflexões, processos e práticas; Redes sociais, comunicação, organizações; Comunicação, discurso, organizações. Chega às livrarias a coleção Faces da cultura e da comunicação organizacional. A obra completa é composta por dez volumes. Os livros abrangem textos sobre comunicação, cultura e suas várias faces.

Quais foram os principais autores que influenciaram na trajetoria de suas obras ou modo de vida?

No campo acadêmico: Linda L Putnam
Acredito que a Profa. Linda nos inspira. Os estudos no campo da perspectiva interpretativa – que me movem – surgiram com o livro  que ela lançou na década de 80 nos Estados Unidos.

No campo profissional: Vera Giangrande
Foi meu espelho. Dinâmica, empreendedora, uma profissional alem do nosso tempo!

Por que as relações públicas são tao importantes para sociedade atual?

Como afirmo na obra Cultura e Comunicação Organizacional: um olhar estratégico para as organizações:  Relações Públicas é a vida pulsante de uma organização. O trabalho está em pensar, articular e criar processos de relacionamentos com diferentes públicos que estimulem a organização a ouvir e interagir com esses grupos.  Assim relações públicas evidenciam a formação de redes de relacionamentos o que instiga o conhecimento profundo desses públicos. Essa postura significa analisar as culturas que se expressam de diferentes formas e que se diferenciam em uma organização, prevalecendo ambientes multiculturais.
Assim, a atividade de Relações Públicas é fundamental, pois ao ser entendida como função de gerenciamento dos relacionamentos entre uma organização e seus stakeholders. Esses relacionamentos são traduzidos em expectativas, informação, comunicação, verdade, ética, consciência e sentido, exemplos de alguns valores que envolvem sua prática. Trata-se, portanto, de uma atividade que analisa, interpreta e avalia opiniões e expectativas, além de estimular o desenvolvimento de processos de mudança dos públicos e também da própria organização. Portanto, criar, monitorar e avaliar relacionamentos com públicos é tarefa abrangente e desafiadora das Relações Públicas.

Entendo que são os processos de relacionamentos efetivos junto aos diferentes públicos que mantêm uma organização viva. Neles, as estratégias e ações são elaboradas para a manutenção, sustentação e realização de um empreendimento. Sua prática hoje é validada e referenciada como aspecto fundamental na sobrevivência das organizações.

Vejo como estratégica no sentido de atuar diretamente nos negócios da organização. Explico, a atividade hoje é essencial pela forma com que pode criar e manter relacionamentos com diferentes públicos. Isso significa se aproximar, olhar o outro lado, conhecer o que pensam, interagir, se relacionar efetivamente.
Uma organização hoje é relacionamento e isso requer a habilidade de se educar as pessoas para esse exercício. Nesse sentido, relações públicas é fundamental e premente para o desenvolvimento da organização pois institui esse pensar, movimenta as pessoas nesse processo de se relacionar, dá condições para esse crescimento quando educa, quando sugestiona esses comportamentos que podem transcender a própria realidade organizacional.

Qual das suas obras é sua favorita? O que ela influencia? Por quê?

Devo ser sensível a essa pergunta, respondendo que tenho paixão por dois campos.

Comunicação e Organização

A relação entre comunicação e organização me encanta. Vejo a comunicação como processo, aquela onde não se observa inicio, meio e fim. É um movimento contínuo.

A obra nasceu com o espírito de abordar, difundir e integrar teorias contemporâneas da administração e da comunicação no contexto da gestão das organizações. É inovadora na medida em que possibilita aos leitores reflexões sobre a organização, a comunicação, a estratégia e seus processos organizacionais.

Veja que em realidades onde se constrói coletivamente a responsabilidade, o envolvimento e o comprometimento são processos naturais que estimulam o crescimento das pessoas tanto no campo pessoal quanto profissional.
Vejo que nas organizações é fundamental que os gestores mais próximos de suas equipes, esta relação vem se fortalecendo e possibilitando o desenvolvimento de novas teorias, por exemplo, a liderança transformacional, a preocupação com a comunicação interna. As organizações não trabalham mais exclusivamente a relação diretoria /funcionários, mas desenvolvem novas reflexões sobre o valor da comunicação nas relações entre gestores e funcionários.

Comunicação e Cultura
Sugiro consultar http://www.uel.br/grupo-estudo/gefacescom/

Especificamente sobre cultura, entendo que é fundamental no processo de formação da identidade, quem somos. A partir daí pode-se falar de imagem – como somos vistos. Deve ser claro o entendimento que os indivíduos mobilizam as organizações e para tal, uma perspectiva interpretativa da cultura emerge – aquela na qual os indivíduos constroem a realidade por meio das interações sociais.
Pessoas dão sentido ao mundo em que vivem. Pessoas atribuem significado para as experiências organizacionais. A renovação é um processo de conscientização para a necessidade de mudar, ou seja, aquela atitude não faz mais sentido na organização, não tem significado para as pessoas, não mobiliza as pessoas para um novo estágio de desenvolvimento e a partir daí, há a consciência natural para a necessidade de mudar. Cultura é aperfeiçoamento, enriquecimento do homem. Comunicação, é construção de significado e inter-relação. Se entendermos as organizações como locais de geração de conhecimento, de desafios, poderemos mais facilmente olhar para as questões que deixam de ter valor e que precisam de novos significados, modificando os pensamentos que não mais contribuem para um determinado direcionamento que a organização definia como valido para ela, ou seja, as pessoas que definem estes direcionamentos e que devem ser conscientes dos processos de mudança.
Por quê?
Elas instigam um pensar estratégico e uma postura diferenciada da comunicação. Como profissionais estratégicos, devemos olhar para a comunicação que transforma, que gera conhecimento, que modifica contextos.

Como foi seu processo de escolha de qual área estudar, e qual carreira seguir?

Me define pelo campo da comunicação logo no início da Faculdade, onde já fazia estágios e procurei me formar rapidamente. Fiz o Curso, na época, em três anos. Sempre fiz estágios, procurei desenvolver atividades nas organizações, como se já fosse um profissional mesmo.

Daí para frente, comecei duas atividades. Mercado, onde atuei em empresas e depois tive minha própria empresa. Academia, onde procurei ensinar o pensamento estratégico e o desvendas das organizações. Fiz também Administração, por acreditar que precisaria de maior conhecimento desse campo para poder realmente “orientar” organizações. A partir daí, nunca parei de estudar, de buscar. Fiz mestrado, doutorado e pós-doutorado. Hoje me dedico as atividades no mestrado acadêmico de administração na Universidade Estadual de Londrina, o que significa novos desafios.

Que dica você daria para um futuro relações públicas?

Paixão pelo que faz. Estudar sempre. Se superar no desenho das estratégias nos ambientes onde venha a trabalhar. Ousar. Sonhar.

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