No embate entre governo e oposição sobre a narrativa do
impeachment de Dilma Rousseff, os Estados Unidos ganharam papel de destaque
nesta semana, com visitas dos dois lados, incluindo da própria presidente, que
discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas na sexta-feira (22).
A posição oficial do governo americano é de neutralidade.
Mas analistas ouvidos pela BBC Brasil divergem em suas avaliações sobre a
reação de Washington à crise brasileira.O economista Mark Weisbrot, codiretor do Center for Economic and
Policy Research (Centro de estudos econômicos de tendência de esquerda), vê
sinais de apoio à oposição. Ele cita o encontro entre o ex-embaixador americano no Brasil e
atual subsecretário de Assuntos Políticos do Departamento de Estado, Thomas
Shannon, e o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), presidente da Comissão de
Relações Exteriores do Senado, que visitou Washington no início da semana. "Esse
encontro é um forte sinal de que eles (o governo americano) apoiam a oposição e
o impeachment”, disse Weisbrot à BBC Brasil.
O porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby,
salientou que o encontro já estava agendado há meses e não tem relação com a
votação do impeachment no último domingo na Câmara dos Deputados.
Em entrevista à BBC Brasil no início da semana, Nunes também
ressaltou que a visita já estava programada, mas revelou que o vice-presidente
Michel Temer (PMDB) lhe telefonou na véspera da viagem pedindo ajuda para
rebater a tese de que haveria "um golpe" em curso no Brasil.
Weisbrot destaca que Shannon é a autoridade mais influente no
Departamento de Estado em relação a assuntos latino-americanos e diz que o fato
de a reunião ter sido marcada antes da votação do impeachment "não
significa nada".
"Não há qualquer protocolo que diga que Shannon teria de se
encontrar com ele (Nunes) neste momento em particular. Ele poderia ter dado
qualquer desculpa, é o número três no Departamento de Estado, é um cara
ocupado", observa. Mas o cientista político Matthew Taylor, analista
do Council on Foreign Relations e professor da American University, em
Washington, discorda da avaliação.
"É comum que autoridades em visita aos Estados Unidos se
encontrem com pessoas como Shannon. Não vejo isso como sinal de nada",
disse Taylor à BBC Brasil.
"O governo americano tem sido cauteloso em não escolher lados
na política interna do Brasil neste caso em particular. Acho que se reunirão
com figuras importantes seja de oposição ou governo, como cortesia",
afirma Taylor, que é co-editor do livro Corrupção e Democracia no Brasil .
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